Cresci tendo uma avó daquelas de conto de fadas. Boa cozinheira. Boa costureira. Bom coração. Boa mãe. E boa avó. Simplesmente boa em tudo que fazia.
Não importava qual era raça, credo, crença, poder aquisitivo, morador de rua ou de casas luxuosas. Sempre estendia sua mão por vezes calejada do trabalho manual.
Cuidou de sua casa. Do Marido. Dos dois filhos frutos do amor de um casal. E de muitos outros filhos conhecidos durante o caminhar pela estrada chamada VIDA.
Casou muitos desses filhos e nesse quesito meus pais se enquadram.
Sempre teve uma vida regrada. Mas nunca lhe faltou comida.
Coisa que nunca faltou em sua casa foi comida. Sempre tinha o que oferecer para quem quer que fosse. Seu feijão com arroz e bife eram imbatíveis. Fortes para sustentar sua família com seus membros legítimos ou não reunidos. E isso era que importava. Ter o que oferecer por menor que fosse. Como Jesus no sermão da montanha onde multiplicou pães e peixes e alimentou milhares.
Minha avó tinha este poder.
Seu lema sempre foi SERVIR.
Serviu a todos com maestria. Com sua forma meiga de agir e sabedoria em agradar a todos. Sabedoria esta utilizada ao extremo. E recebida de bom coração por todos que passaram por seus carinhosos gestos. E ao ser retribuída toda a sua infinita dedicação ficava feliz pelo simples agradecimento sincero de quem recebeu sua ajuda num momento difícil de vida.
Religiosa. Sempre esteve em contato com DEUS.
Em todas as refeições. Todas as festas e comemorações. Em todo lugar que ia Ele estava com ela.
Os filhos cresceram, casaram-se e em seguida vieram os netos.
Com a família em constante crescimento. O número de netos agregados aumentava sempre. Os amigos se tornavam parentes e novas crianças novos netos.
A casa ficou pequena e algumas mudanças foram feitas. E todo Domingo era sagrado passar o dia em sua companhia após a missa. Almoços memoráveis. Assistir Silvio Santos. Boas lembranças.
INTELIGENTE. Estudou pouco mas o pouco que tinha distribuiu e ensinou dezenas talvez centenas de pessoas.
Fazia palavras cruzadas como ninguém. Charadas eram passatempos. Era uma enciclopédia ambulante. Pesquisava sobre tudo que tinha interesse em saber. E aprendia. E passava adiante o conhecimento.
O tempo passou e com o avançar da idade vieram os primeiros problemas de saúde. Mas minha avó não era de jogar a toalha. Era resistente e se recuperava de todas as mazelas que teve.
Não gostava de ir ao médico e muitas vezes sabia mais que eles próprios.
(...) Algumas internações.
Já debilitada superou dois AVC sem seqüelas. Mas o corpo não agüentou e mais uma internação feitas as pressas teve que ser feita. E o quadro se agravou.
A GRANDE FAMILIA se reuniu mais uma vez. E desta vez foi pra se despedir.
Juntos demos as mãos e nos apoiamos nos ombros amigos dos familiares para ter forças de continuar a caminhada.
Minha avó Viveu intensamente sua vida simples. E IMPORTANTE para cada um de nós que a conhecemos com sua vivacidade, sorriso, simpatia e alegria em viver.
Hoje minha vó como sempre a chamei está cuidando de nós de um lugar mais alto. De cada membro da família que ela acolheu e afagou durante toda sua vida.